Na Retrosaria

O primeiro curso de costura que frequentei foi na Retrosaria, com a Rosa Pomar. Se escolhi Estudos Portugueses para licenciatura por causa de uma professora de português do Ensino Secundário, é bastante provável que tenha escolhido a costura por causa da Rosa e dos seus trabalhos.
Cheguei lá, e já tinha tido uma máquina de costura que entretanto vendi, e comprei outra, com imensas expectativas. Como quem sabe que aquele momento iria significar o resto da minha vida. Procurei a loja e dei três voltas à rua até dar com as escadas. Quando entrei, fiquei maravilhada. A loja era como eu imaginava, e a Rosa também. Eu já tinha desistido de costurar uma vez, mas, nesse dia, percebi que nunca mais iria deixar ou desistir. Lembro-me das palavras: "costurar, costurar, não desistir, costurar muito". E foi o que fiz. Bem, ou menos bem, com descosedor sempre à mão, foi o que fiz. Adquiri na loja todos os materiais, fui para casa e, nesse dia, só me deitei de madrugada, com medo de me esquecer o que tinha aprendido. O meu primeiro alfineteiro foi feito nesse workshop. Tenho imagens dele aqui e na página da Pega-Rabuda. É lindo. Se o mérito é meu? Claro que não. Foi a Rosa quem o concebeu e quem me pôs a fazê-lo no seu curso. É, portanto, um projecto seu. E saibam que continuo a usá-lo, um ano depois, e é o meu amuleto.
Pois na visita ao meu atelier, um fotógrafo tirou várias fotografias para uma revista. Uma dessas duas a que tive acesso é do alfineteiro da Rosa. A fotografia é linda. O alfineteiro em primeiro plano, eu atrás a coser, desfocada - nunca me tinham fotografado a coser. Quando me pediram para fazer o cartaz do workshop de iniciação para divulgar, nem pensei duas vezes e usei a foto. Enviei-a, por lapso, numa newsletter que foi parar a 1500 contactos que tinha no email, incluindo as Finanças, a Segurança Social, o desentupidor, e a Rosa, entre tantas outras pessoas com quem troquei emails na vida. Pois, a Rosa escreveu-me, triste, por ter usado uma fotografia de um objecto concebido por ela para vender o meu trabalho, e com todo o direito, pois o seu trabalho é muito característico e próprio - por isso o adoro e sempre segui -  e devia, ao menos, ter pedido permissão para fazê-lo. Peço desculpa, em público, Rosa, pois já o fiz por email, triste, triste, triste, porque nunca foi minha intenção usar o trabalho dos outros para conseguir trabalho para mim. E para mim isto resulta numa situação tão triste como se eu escrevesse sobre os trabalhos e desventuras da guerra de Tróia e ocultasse o nome de Homero. Aqui fica o meu pedido de desculpas e um beijo à Rosa, por ter sido ela e o seu projecto o início de toda esta minha viagem bem-sucedida.

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