Hoje tenho saudades das minhas férias de Verão enquanto
criança. Saudades do meu avô, duas vezes pai, que me levava à praia e me
deixava dormir com o sal no corpo. “Faz bem à pele”, dizia. Saudades das manhãs
em que acordávamos ao raiar do Sol para apanhar desprevenidos caracóis nas
folhas orvalhadas e que, mais tarde, eu vendia na rua à dúzia – e tinha sempre
fregueses. Saudades dos nossos festivais da canção, com a vassoura a escapar-me
por entre as mãos pequeninas, quando me vias a dançar e dizias “isto não se
aprende, isto nasce com a pessoa”. Saudades de ir ajudar os pescadores a puxar
as redes, ver a mancha cinza que brilhava a aproximar-se, para fazer as contas
de cabeça se ainda era seguro tomar banho sem um encontro doloroso com os
peixes-aranha. Saudades do cheiro do peixe, do barulho ensurdecedor das caudas
a estrebuchar na areia que ficava colada nos nossos corpos como um testemunho.
Alguns demoravam tanto tempo a morrer… Saudades dos teus petiscos, do teu
cheiro a tabaco, do teu cheiro a vinho, do teu sorriso, do teu amor e paciência.
Obrigada, avô. Deixaste-me há quase 30 anos, e não há um dia que passe que não
me lembre como me ofereceste a liberdade e a infância que procuro oferecer aos
meus próprios filhos, com as minhas limitações. Adoro-te.
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